Nos debates sobre raças e racismo pouco se fala sobre “branquitude”.
E foi a partir desta constatação que a pedagoga e professora de
educação infantil, Luciana Alves, demonstrou que ações afirmativas, como
a lei sobre ensino da cultura africana, só fazem sentido se forem
realizadas em ambiente de reflexão e reconstrução sobre o “ser branco”.
O tema “miscigenação” é muito falado no
Brasil, mas o que se esconde por trás desse discurso é uma cultura que
atualiza o racismo. A escola se apresenta como instituição
discriminatória, onde o assunto “branquitude”
é pouquíssimo discutido nos debates sobre raça. Essa situação colabora
para que o branco se sinta superior e em posição de neutralidade a
respeito do tema, fazendo perpetuar a “positividade da brancura” e os
estereótipos negativados do “ser negro”.
Para realizar seu estudo Significados de
ser branco – a brancura no corpo e para além dele, Luciana entrevistou
10 professores de ensino básico, sendo 4 autodeclarados brancos e 6
negros, a fim de saber o que pensavam sobre “o que é ser branco no
Brasil”. O estudo foi apresentado na Faculdade de Educação (FE) da USP. A
pesquisadora conta que os professores foram selecionados para o
trabalho quando participavam de um curso sobre a Lei 10639/2003, que
obriga o ensino de cultura e história africana e afro-brasileira nas
escolas.
Metade branca
No Brasil, cerca de 50% da população se autodeclara branca, denunciando que no País onde existe um discurso sobre a mistura de raças ainda há motivos que levam as pessoas a se declararem brancas, mesmo sendo provenientes de família mestiça. De acordo com Luciana, esses motivos estão relacionados aos “significados de ser branco, para além da cor da pele”. Esses significados são um
conjunto de características atribuídas culturalmente às pessoas que se reconhecem e são reconhecidas em suas comunidades como brancos.
“Ser branco é não ser negro”, disse um dos
entrevistados. Tal resposta evidencia que o significado de ser negro
geralmente já é construído como o contrário de ser branco. Por causa
dessa mentalidade, é muito comum
perceber no dia-a-dia situações em que “ser negro” é relacionado a
características negativas. Em contra partida, o que é associado à
brancura são valores positivos, socialmente estimados. A inteligência, a
castidade, a beleza, a riqueza, a erudição e a limpeza,por exemplo,
seriam características de um “negro de alma branca”, expressão utilizada
por um dos professores entrevistados.
Nas entrevistas, o que ficou claro nas
falas dos negros, além da tal positividade da brancura, foi a sensação
de medo, insegurança, opressão e desconfiança. Isso confirma a imagem do
branco como potencialmente opressor para os negros, construída e
atualizada ao decorrer da história.
As respostas dos professores brancos sobre
“ser negro” geralmente recorriam aos estereótipos muito bem fixados no
imaginário popular. Quando falavam de suas infâncias, lembrando momentos
em que presenciaram situações de discriminação, evidenciavam que desde
aquela época esses estereótipos, criticados por eles atualmente, já
estavam sendo construídos.
Essa construção coloca a “brancura” como
padrão, como norma, e é essa padronização a principal responsável pela
atualização do racismo no Brasil, segundo a pesquisa. “As memórias dos
professores revelam a neutralidade de sua pertença racial, indicando que
ser branco é não ter que refletir sobre esse dado”, constata a pesquisadora.
Nas escolas
O racismo ainda existe e permeia o
cotidiano do brasileiro e, nas escolas, não é diferente. Segundo
Luciana, a melhor forma de não atualizar a discriminação nas salas
de aula é colocar o tema “branquitude”
em pauta. “É preciso entender que os brancos também formam um grupo
racial que defende seus interesses, e acabam se beneficiando, direta ou
indiretamente com o racismo”, diz a
pesquisadora. Ela acredita que deve haver no ambiente escolar oportunidades de se discutir e questionar a adesão à ideia de superioridade da brancura.
pesquisadora. Ela acredita que deve haver no ambiente escolar oportunidades de se discutir e questionar a adesão à ideia de superioridade da brancura.
— É aí que entra a formação adequada dos
professores, como aposta para que a idealização branca deixe de ser
objeto de desejo para negros e brancos, pois ela pressupõe hierarquia
— descreve a pesquisadora. Nas salas de aula, a brancura ainda é
construída como referência de humanidade, onde “o branco é sempre o
melhor exemplo”.
Por Glenda Almeida
AGÊNCIA USP
http://negrosnegrascristaos.ning.com/forum/topics/a-import-ncia-das-mulheres
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