domingo, 25 de janeiro de 2015


.

A minha vizinha nunca leu Simone de Beauvior. Não conhece Emma Goldman e muito menos já ouviu falar sobre Audre Lorde. A minha vizinha não é acadêmica, nem preta cotista e o máximo que conseguiu chegar, foi até o primário e por contra gosto do pai: "preta minha não vai estudar!". 

A minha vizinha não sabe o que é direitos humanos. Já levou cuspe na cara, chute na barriga, três abusos e um filho no bucho. A minha vizinha trepou com um sujo.

Já foi chamada de nega, vagaba, macaca. Inclusive pelos homens de farda. A minha vizinha não sabe o que é sororidade, às vezes chora de saudade do filho que perdeu, pura sacanagem!

A minha vizinha não é culta. Sempre foi chamada de puta. Jogada na rua, cresceu na labuta. Já foi faxineira, cozinheira, prostituta. Ê mulher de luta! 

Sabe que nem sempre a vida é justa, mas ela busca. Onde ela vive, não existe lei Maria da Penha que a proteja de ser mãe "solteira, diarista e detenta". 

Essa mulher tá abalada.
Aaaah, mas o eurocentrismo ainda a mata.
Tá preparada: hoje vai largar o emprego e ir para o sambódromo (é o jeito), interpretar a mulata. Coitada..."

Texto: Lorena Cristina